31 de dez. de 2011

Sem Daniel Piza

Estou tentando absorver o impacto de uma ausência inesperada. Do jornalista Daniel Piza.

O sentimento de perplexidade é o mesmo que tive quando Zé Rodrix faleceu. Zé faleceu aos 61 anos, Piza se foi aos 41. Mortes prematuras.

Eu era leitor fiel do jornalista desde sua atuação como editor do caderno cultural da Gazeta Mercantil, no final da década de 90.

Anos depois, passei a acompanhá-lo na coluna semanal Sinopse, no jornal O Estado de S. Paulo. Por fim, incorporei aos meus hábitos diários a leitura do blog no portal do Estadão.

Na minha memória afetiva de leitor de jornais, a meia página de Piza no Estadão era uma continuação sem excessos do colunismo de Paulo Francis. O jornalista do "Diário da Corte", alíás, mereceu um perfil do seguidor, na coleção Perfis do Rio, da editora Relume Dumará.

Cheguei a me corresponder brevemente com Piza. Mandei alguns exemplares de um jornal de humor editado por mim, dele recebendo uma resposta gentil e incentivadora.

Todos os clichês aplicados a uma perda precoce como essa são válidos. Clichês que Daniel Piza sempre evitou, ao recordar a trajetória de pessoas relevantes que se foram.

30 de dez. de 2011

M de Música, C de Caricatura

Nos primeiros anos do século 21, participei da primeira rede social-virtual da minha existência.

Na pré-história da internet, a conexão discada ia e voltava quando queria.

Mesmo assim, músicos, jornalistas e fãs de música aderiram à lista de discussão M-Música.

Sendo apenas fã, restou-me função nada melodiosa: a criação de caricaturas do pessoal da lista.

Os desenhos ao lado, devidamente aprovados pelos m-musiqueiros, também contemplaram dois membros que já deixaram saudade: o compositor e músico Zé Rodrix e o jornalista Toninho Spessoto.

Ao Zé, ao Toninho e aos companheiros da lista M-Música, dedico esta postagem, como recordação dos dias felizes passados na pré-história da internet.

A única coisa a não deixar saudade foi a conta de telefone daqueles tempos idos. Bendita conexão discada.

27 de dez. de 2011

Caricaturas literárias, retratos nada literais

Os dois caricaturados à esquerda são Clarice Lispector e José Saramago.

Já falei da Clarice aqui. A caricatura dela é conceitual. Olhe o lado mais escuro do penteado dela.

De Saramago, nunca li nada. Sei que ele terminou seus dias numa ilha na Espanha. O cenário do desenho é aquela água.

Por ora, nada mais a declarar. Os dois declararam seus talentos ao mundo. O mundo dos seus leitores.

20 de dez. de 2011

Velhinhos e velhacos

Quem falar mal de Papai Noel, a essa altura do ano, corre sérios riscos de ser mordido por uma rena invocada. Ou levar um tapão da patroa do bom velhinho.

Já tive meus dias de transgressor natalino.

Adolescente puro e besta, com aquele fígado azedo típico dos adolescentes, ilustrava um suplemento infantil de um jornal. Um tempo diferente de fato. Jornais publicavam cadernos para crianças. Um deles empregava um adolescente puro e besta. Este que vos digita.

Só que eu não digitava nada. Desenhava o suplemento todo. Quadrinhos, passatempos. Tudo. As capas também.

Numa capa de Natal, baixou o espírito de porco, em vez do esperado espírito natalino. Um personagem questionava um velhinho descendo do céu: "O senhor é o Papai Noel? Eu não acredito em Papai Noel".

O velhinho, mais para pastor de ovelhas que para bom velhinho, respondeu placidamente: "Acredite na felicidade de uma nova era!"

No dia seguinte, choveram telefonemas na redação do jornal. A maioria de mães zelosas com a inocência natalina de seus filhos.

Hoje, até acredito em Papai Noel. Crer na figura do velhinho é melhor que a crença em velhacos que são umas figuras.

16 de dez. de 2011

Escrever é fácil, ser escritor são outros quinhentos

1. Pessoal briga com namorado ou namorada. Com marido ou mulher. Com irmão ou irmã. Pai ou mãe. Amigo ou amiga.

Aí, pra dar o famoso tapa com luva de pelica no interlocutor da discórdia, procura uma frase de escritor clássico. E posta nas redes sociais.

A atitude de "atitude" confere um verniz de importância à picuinha insignificante do dia a dia.

Belicosos de plantão, expressar sentimentos pra todo mundo ver, vez por outra, nos livra do infarto iminente. Mas copiem as frases direitinho, por favor. E confiram se as palavras definitivas do Verissimo, da Lispector ou do escritor da moda são deles mesmos.

Os amantes da literatura agradecem. Os amantes de plantão, tentem sossegar o facho. Ao menos nas redes sociais.


2. Você tem uma vocação literária.

Trabalha por ela. Deixa que ela comande sua vida. Atravessa as inquietações naturais da existência, amplificadas pela sua sensibilidade ímpar: essa que nunca lhe deixa em paz.

Passa ao largo das benesses da vida, usufruídas por quem não carrega o mundo nas costas, feito você, o escritor de plantão. Finalmente, se vai.

O tempo passa. Sua obra é "compartilhada", destroçada, deturpada e banalizada por uma multidão de iletrados que jamais lerá um livro inteiro seu. De preferência, os fragmentos da obra que mais se assemelhem a lições de moral, conselhos ao estilo autoajuda, frasezinhas de agendinha.

E ainda há quem queira ser escritor.

4 de dez. de 2011

Sócrates (1954 - 2011)


Há dois anos, eu estava suspirante na Avenida Paulista, em São Paulo.

Tinha feito na cidade tudo o que precisava, o que gostaria, o que não precisava. Uma pena danada ter que voltar à minha cidade em plena sexta à tarde. Resolvi ir ao Conjunto Nacional, na gigantesca Livraria Cultura, esperar o horário do último ônibus de volta.

Na Livraria, fui andar pelos andares todos. Após olhar todos os CDs e DVDs possíveis e imagináveis, fui ao andar do Teatro Eva Herz. Olhei uma placa, que anunciava a transmissão, naquele fim de tarde, de um programa de rádio chamado Fim de Expediente.

Uma vez ao mês, aquele teatro era utilizado pela rádio CBN para acomodar o público do programa, conduzido principalmente pelo ator Dan Stulbach.

Olhei a placa. Ela anunciava a distribuição gratuita de ingressos ao respeitável público dali a... cinco minutos! Sem piscar, me coloquei como um dos primeirões da fila. De graça, até programa de rádio na testa.

Na fila, após meia hora, puxei papo com um casal. Animado por estender um pouco minha estada paulistana, saquei de alguns jornais, onde desenho as pessoas nas capas, e comecei a caricaturar meus interlocutores.

Após as risadas e o agradecimento dos pombinhos pela cortesia inesperada, olhei para trás e presenciei outro ser improvável. O ex-jogador e atual médico, irmão do Raí, ex-craque da Seleção Brasileira de Futebol, estava com duas pessoas numa roda. Era ele... o doutor Sócrates!!

(Leia a crônica completa aqui)

30 de nov. de 2011

O bem que esse Jorge faz

Jorge Ben é um caso de artista brasileiro sem vínculos com movimentos musicais, mercadológicos ou todas as alternativas anteriores. Jorge é Jorge, e ponto.

Ben surgiu com uma batida diferente de violão, nos anos 60, sem nada a ver com a revolução que João Gilberto desencadeara poucos anos antes.

Jorge passeou pelo samba-jazz. Flertou com a Jovem Guarda. Incorporou o discurso da negritude dos anos 70. Gravou disco de uma jam-session com Gilberto Gil. Conheceu o sucesso fora de casa.

Após três décadas de carreira, experimentou certo ostracismo. Trocou de nome, reapareceu com um hit-bomba (aquele da W Brasil). E rendeu-se ao modismo acústico-jovem de uma TV.

Com todas essas reinvenções camaleônicas, entre altos e baixos, continuou na dele. E virou um clássico: copiado, replicado e remixado por quem teimosamente julga ter a capacidade de reinventar a roda.

Mas o mundo gira, os imitadores passam. E Jorge fica: na dele e na história da música pop mundial.

O texto e a caricatura acima, saíram primeiro na revista virtual Dito, o Bendito, de autoria desse que vos digita, em 2003. Lembrei da existência do material após troca de e-mails com uma amiga jornalista de mão cheia e coração aberto.

26 de nov. de 2011

Simples e quieto

Essa caricatura é de alguns anos atrás. Achava o desenho simples demais pra divulgar. Chegou a sair numa página de humor que eu editava num jornal em Piracicaba.

Só que a simplicidade caracterizava o personagem retratado. Então, não havia motivo pra esconder o trabalho.

O escondido, na banda mais famosa do mundo, era o cidadão ao lado. Somente com o fim da tal banda é que ele se impôs, ao jeito dele.

All Things Must Pass, álbum triplo em vinil, lançado em 1970, depois relançado como CD duplo décadas depois, colocou nos holofotes o cantor e compositor outrora discreto. Embora haja quem afirme que ele não foi nada tímido nos bastidores.

De qualquer forma, ele está eternizado na história da música mundial: George Harrison. E na minha modesta caricatura.

Toques em 140 toques

As redes sociais, feito o tuíter, transformaram o mundo contemporâneo, principalmente o mundo dos usuários de internet. Transformaram e transtornaram os mesmos usuários. Abaixo, uma série de toques em 140 toques cada, para que essas transformações não fiquem cada vez mais transtornadas.


Quer tuitar, tuita. Mas...

... não fica reclamando que a vida está um tédio, que a vida está chata.

... não coloca sua vida lá em boletins minuto a minuto. Vai viver um pouco, depois volta pra fazer um "The Best Of".

... não fica dando RT em elogios que fazem a você. Senão te julgarão um exibicionista, não uma pessoa talentosa.

... pelamordedeus: não apareça do nada, todo amigão, pra pedir voto no seu trabalho em algum concurso.

... não escreva tudo em maiúsculas, achando que temos obrigação de dar crédito à sua indignação.

... controle-se nas frases de autoajuda. Senão dá a impressão que quem precisa de ajuda é você, conselheiro invencível.

... pega leve na descrição do seu estado de espírito oscilante. Rede social não é divã, nem confessionário.

... não fica mandando tuíte com propaganda de produto, a cada vez que se diz algo com palavra-chave com cara de produto.

... tenta evitar o senso comum, por favor. Principalmente as palavras que qualquer um diria após uma notícia de impacto.

... lembre-se de algo fundamental: você faz parte do universo. Você não é o centro do universo.

25 de nov. de 2011

Apaixonados e separados

Autoestima de apaixonado: "Você é tudo o que eu preciso".
Autoestima de separado: "Eu não preciso de ninguém".

Papo de apaixonado: "Essa pessoa é TUDO pra mim".
Papo de separado: "Essa pessoa é TUDO o que eu não quero".

Apaixonados se chamam por apelidos.
Separados se chamam pra briga.

Apaixonados vão às nuvens.
Separados perdem o chão.

Apaixonados fazem cara de idiotas.
Separados sentem-se uns idiotas.

Apaixonados se chamam de chuchuzinhos.
Separados tentam resolver seus pepinos.

Apaixonados não vivem separados.
Separados não querem se apaixonar de novo.

Apaixonados não veem mais nada além deles.
Separados querem se ver pelas costas.

Os apaixonados se tornam pessoas melhores.
Os separados querem encontrar pessoas melhores.

Apaixonados ardentes perdem a cabeça.
Separados lamentosos se perguntam onde estavam com a cabeça.

Paixão é um caso.
Separação já é descaso.

24 de nov. de 2011

Gil no palco

O texto e a caricatura a seguir saíram em julho de 2004, num jornal de humor chamado Rio. Lembrei do texto quando vi que o Dia do Música seria comemorado nessa semana. Quem tiver preguiça de ler muitos caracteres, pode se retirar do recinto, que aqui a prosa é longa. Mais por conta da verve do personagem principal.


Vem meu irmão e me dá um recado.
- Não vai no Engenho, não. ELE não vem!

Bem que o pessoal de Piracicaba queria. A visita estava anunciada com certa antecedência. As homenagens musicais, agendadas. Os discursos, prontinhos. E o imprevisto... dando as caras. Fazendo com que o ministro da Cultura não desse as caras na data marcada, 17 de junho de 2004.

Adiou-se sua visita ao Engenho Central, o anúncio de benefícios federais ao Salão Internacional de Humor de Piracicaba, a posse do novo Conselho Municipal de Cultura. Ele tinha compromissos. Em São Paulo e em Rio Claro.

Mas a expectativa dos presentes no barracão 7B do Engenho Central, espaço cultural à margem do Rio Piracicaba, não se frustrou. Já era o dia seguinte.

E o ministro veio. Acompanhado das inevitáveis autoridades municipais e estaduais. Acompanhado de uma multidão de fãs, com as respectivas máquinas fotográficas e caderninhos de autógrafos.

Peraí. Estamos falando de um ministro mesmo...?

Estamos, sim. Só que o ministro em questão se chama Gilberto Gil. Ex-revolucionário musical do Tropicalismo, com Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duprat, Mutantes. Atual músico sessentão, de carreira sólida no Brasil, ícone da chamada MPB.

Enfim, ele dá as caras em Piracicaba, em meio a uma movimentada agenda, na região e na capital paulista. Fóruns culturais solicitam sua presença. O público quer ver o ministro ao vivo, sem pagar ingresso. Aqui e lá.

No barracão próximo à Ponte Pênsil que dá acesso ao Engenho Central, os funcionários da secretaria de cultura local já sabem: Gil chegará atrasado. Seu almoço no restaurante Mirante, próximo ao famoso Rio de Piracicaba cantado por Tião Carreiro, atrasou um pouco a chegada ao Engenho. Alguém do almoço diz: "Ele até deu uma canja pra nós!" Nada estranho, em se tratando de um restaurante.

Uma hora de atraso, e chega a comitiva oficial com o ministro a tiracolo. Mais por conta do alvoroço de imprensa, que cerca Gilberto Gil com seus flashes, câmeras, bloquinhos e perguntas. Que ficam pra depois. Grande, o fuzuê.

Feitos os discursos dos prefeitos de Piracicaba e Rio Claro e do secretário de cultura de Piracicaba, duas apresentações musicais acontecem. A primeira traz o Hino Nacional executado por um grupo da tradicional Escola de Música de Piracicaba, que leva o nome do respeitado maestro Ernst Mahle. Gil apura os ouvidos para a formação de metais do conjunto.

Na segunda apresentação, um grupo de crianças apresenta uma congada, com o acompanhamento luxuoso de violeiros locais. As roupas dos músicos e da molecada remetem à festa do Divino Espírito Santo, que deixou de acontecer em muitos lugares, mas em Piracicaba ainda existe. E resiste.

E chega a hora de Gil soltar o verbo. Durante os agradecimentos de praxe, dá um tapa com luva de pelica na imprensa, que barra a visão do respeitável público à mesa. "A mídia são os meios de comunicação, que levam as nossas imagens, são as nossas janelas para o mundo, mas que já tiveram bastante tempo aqui, agora podem ficar ao lado, em pé de igualdade com as outras pessoas..." E o público aplaude.

O ministro relembra seus laços anteriores com Piracicaba. Em 1973, fez um show no Teatro São José. Na breve passagem pela cidade, um músico de sua banda acabou envolvido com uma "jovem piracicabana", que juntou seus trapinhos aos do rapaz. Após separar-se, ela ficou no Rio de Janeiro, onde envolveu-se com outro músico e teve um filho com ele. E o filho tornou-se músico, que atualmente toca com Preta Gil, filho do ministro. "Ainda que eu não quisesse, a natureza e a cultura quiseram que eu estivesse ligado a Piracicaba".

Após pedir a presença, junto à mesa das autoridades, das pessoas que formariam o novo Conselho Municipal de Cultura, Gil tece loas ao Engenho Central, ao Salão Internacional de Humor, à Paixão de Cristo, ao projeto do Museu da Ciência e Tecnologia. Ali, a retórica tropicalista entra em ação.

"Ciência, tecnologia, formas de expressão, linguagens, formas afetivas, formais vivenciais, tudo isso é cultura. Vocês estão aqui com um equipamento de primeira ordem, ao mesmo tempo tradição, memória, herança cultural e material, nas suas paredes de tijolos fortes, na sua argamassa, provavelmente ainda com óleo de baleia, como era naquele tempo".

A fala mansa do ministro passa a destacar, com a ênfase possível em uma voz rouca, a ligação do povo brasileiro com a África. Que começa com a congada, apresentada momentos antes do discurso.

"Eu vi aqui os meninos que poderiam ser alemães ou austríacos, aqui na congada. Eles são herdeiros da tradição africana. A congada aqui apresentada pelos violeiros vem de outra tradição, a tradição ibérica! A Espanha, as civilizações mouras, que durante setecentos anos ajudaram a civilizar aquela Espanha da Europa. Ali, nas mãos do violeiro! Este é o nosso Brasil: mundo tão conturbado, mas tão belo, nessa vida tão difícil mas tão rica, ao mesmo tempo".

O ministro resmunga uma vez mais com a imprensa, que lhe perguntou, na entrada, o que ele veio fazer em Piracicaba. Sua resposta à repórter: "O que eu venho fazer? Venho trabalhar!"

As palmas reapareceriam após uma pequena lição de música. Gil pede ao trompetista o significado teórico das primeiras fases musicais do Hino. Após cantarolar as frases, com o músico ao trompete, Gil declara: "Eu fui basicamente um músico intuitivo. Aprendi pela prática, sei muito pouca teoria musical". E explica: "A introdução do Hino Nacional é um conjunto de fusas, misturado com um conjunto de colcheias, e semicolcheias, e etc, e etc."

Para deleite do respeitável público, arremata: "Este talvez seja o mais belo dos Hinos Nacionais que nós temos nas nações do mundo!"

Dando início aos finalmentes, Gil empossa o Conselho Municipal de Cultura e se despede, cercado por sua equipe de trabalho, guardas municipais, imprensa e público em geral. Artistas plásticos querem entregar quadros. Mulheres querem uma entrevista informal a jato. E um rapaz, que ouvira, sim, o último CD do ministro, grita para todo mundo ouvir, inclusive a autoridade em questão: "Aê, Gil! É BOB MARLEY, cara!"

Encerrada a peleja, Piracicaba volta ao normal. Menos aqueles nativos que não conseguiram um autógrafo de Gil, e o amaldiçoariam pelo resto da vida.

23 de nov. de 2011

Caras, bocas e apagões

Num tempo em que boa parte das conversas se dá entre interlocutores escondidos atrás de monitores de computador, devidamente conectados a redes sociais, uma cena rara se passou diante dos meus olhos: um papo ao vivo entre cinco mulheres. E todas com o assunto na ponta das respectivas línguas.

A conversa aconteceu numa sala de aula, depois de dois ou três apagões no sistema elétrico da escola. O que não impediu que a mulherada tagarelasse a níveis nucleares, radiantes.

Na sala de aula, as representantes do sexo nada frágil desfiaram suas respectivas especialidades. Tendo uma chuva miúda como reles coadjuvante do ambiente, a professora falava a uma velocidade digna de um Fórmula 1. Pernas e braços saltitantes auxiliavam a oratória sem vírgulas, sem ponto final, às vezes sem eira nem beira.

As alunas acompanharam as palavras da mestra até o acalorado debate a respeito de esmaltes para unhas indefesas. Quando o assunto evoluiu para um consenso a respeito das virtudes masculinas, a única voz masculina presente achou por bem exprimir um suspiro, quase um muxoxo. Interpretado por elas como um silêncio mais eloquente que qualquer frase de efeito. Mulher interpreta até respiração, ó céus.

Não foi dessa vez que escapei da lábia escorregadia, porém graciosa, das colegas ocasionais de um curso rápido. Mesmo porque, depois de ouvir confissões sobre métodos de descarrego de energia em leitos incautos, além de juízos sobre a revolução nas artes marciais, a melhor atitude do ouvinte caipira foi a mais adequada ao momento: enfiar a viola no saco. Antes que a reação viesse toda desafinada.


Esse texto, inédito até o instante da postagem, saiu simultaneamente à tagarelice acima, no curso de Redação Jornalística do Senac Piracicaba, em 2010. Era uma aula de produção de crônicas. As colegas de classe me absolveram por tê-las transformado em personagens. O desenho do cronista entra aqui pra dar uma suavizada nas palavras ácidas. Ou entornar o caldo de vez, ao gosto do leitor e freguês.

22 de nov. de 2011

Diálogos antissociais em redes sociais

- Perdi um amigo.
- Ele morreu?
- Me bloqueou no tuíter.

- Nunca mais quero ver sua cara!
- Você nunca viu minha cara. A gente só se fala na janela de bate-papo.
- Agora é que não vou ver mesmo.

- Copie este recado e cole no seu mural.
- Cadê o recado?
- Copie ESTE recado e cole no seu mural.

- Oh, céus. Ninguém fala comigo no tuíter.
- Calaboca, seu babaca.
- Legal! Alguém falou comigo no tuíter.

- ATENÇÃO! PASSEATA NA PAULISTA...
- Tira esse Caps Lock no texto!
- ... PELO DIREITO DE GRITAR NAS REDES SOCIAIS!!!!!

- Quer perder peso? Me pergunte como.
- Como?
- Pare de comer. E saia desse computador.

21 de nov. de 2011

Emoção de primeira

Se o clichê diz que aqui é o país das cantoras, não sou eu quem vai contrariá-lo.

Tem tanta cantora nova por aí. Muitas ótimas, envolventes. Várias seguindo a cartilha das que dominam as paradas de sucesso. Outras tentando um lugar ao sol, mesmo em lugares onde o astro-rei nasce quadrado.

Nos últimos anos, os mesmos avanços tecnológicos que decretaram a morte da indústria fonográfica democratizaram o acesso de centenas de garotas à internet, aos estúdios de gravação. Cada qual com seu site, seu canal no YouTube, seu avatar nas redes sociais, seu disco.

Na minha cidade, por exemplo, a última que escutei foi Patricia Moreno. Ou Pa Moreno, como ela assina na capa do seu CD. Escutei a cantora pela primeira vez na Virada Cultural de Piracicaba, em 2011. Megaevento do governo estadual paulista, reúne, num período de 24 horas corridas, diversas atrações musicais, a maioria num espaço só.

Na espera do show dos Titãs na Virada, no Parque Engenho Central, pude olhar um dos shows "de espera", exatamente com Patricia num dos palcos. E foi no palco do teatro do Sesi, onde coloco os pés quase todas as semanas, que revi a cantora, no espetáculo de lançamento do seu primeiro CD. Esse que ilustra a postagem.

A maioria dos trezentos e tantos assentos do teatro estava ocupada. Uma turma de fãs de todas as idades prestigiou a cantora. O clima lembrava o de um domingão em estádio de futebol, tamanho o zum-zum-zum no recinto.

Pa Moreno tem dezoito anos de carreira. E uma trajetória comum a outras intérpretes. Cantando em corais, musicais, festivais, coletâneas em disco, bares e restaurantes, até chegar ao CD solo. O repertório do disco integrou o set list do palco do Sesi.

A banda que acompanhou a intérprete no show teve o baixista Celso Rocha (dono do estúdio Apache, local de gravação do disco), o pianista André Grella e o baterista Roggero Chiarinelli. Completou o time o marido de Patricia, Zé Rubens Trevisan, que toca violão, guitarra e compõe com a mulher.

A performance de Pa Moreno saltou aos olhos e ouvidos do respeitável público. A iluminação projetou cores fortes no palco e na cantora de vestido vermelho: vestes de uma diva. Para dar um toque a mais de emoção no clima de estreia, Patricia contava a história da criação de cada música. A humanidade da atitude tirou das costas da cantora o rótulo de "diva".

As canções propriamente ditas - ou cantadas - trazem a salada de ritmos típica desse mundão contemporâneo, embora Patricia tenha declarado no palco a paixão pelo blues.

Para um ouvinte incorrigível de MPB, que não admite letras sem achados poéticos à la Chico Buarque, versos pop podem soar simples. O que não impede a compositora e seus parceiros de atingir um nível mais "literário", na simbiose entre versos e músicas.

Sem ouvir a música, apenas lendo o encarte do CD na entrada do show, gostei de "Mágico" (Pa & Trevisan). No palco, a expressividade de "Iniciante" (Pa, Trevisan & Hion), em dueto voz & piano, não seria a mesma se construída de forma rebuscada.

A ideia mais interessante ficou registrada em "Samba no cais" (Pa & Trevisan). A história do sambista-malandro-cachaceiro, de nome Januário, é velha de décadas no imaginário da música brasileira. Mas contar-cantar o personagem num blues inverteu a expectativa trazida pelo título ao ouvinte. Que samba, que nada.

Os músicos Daniel Sanches e Luis Dutra acompanharam a intérprete em algumas canções. E a autora dos versos de "Iniciante" recebeu o abraço emocionado de Patricia no bis final.

O que mais se ouvia teatro afora, ao final do show, era o coro de "Bravo!". As palmas ruidosas do respeitável público acompanharam o coro. De minha parte, fica o gosto de "quero mais". Ainda bem que agora há o CD de Pa Moreno, que satisfará em parte o desejo por novas performances da cantora.

19 de nov. de 2011

Uma nova história de crianças, feita por crianças

No dia 18, tivemos o lançamento de mais um livro infantil: Cesta!

A versão impressa da obra, em formato de poster, teve as capas autografadas pelas crianças-autoras.

A versão online está disponível para leitura aqui.

A obra foi feita por alunos e alunas de 5 a 10 anos, em oficina orientada por este cartunista, no dia 29 de outubro, na escola Waldorf Novalis, em Piracicaba.

Além da tarde de autógrafos, houve mostra dos desenhos produzidos por elas na oficina.

Outros livros infantis criados em oficinas estão aqui, aqui, aqui e aqui.

O livro feito por mim com a ilustradora Maria Luziano, A Pipa Avoada, está aqui. Também é uma história para crianças.

Em breve, se Deus e Papai Noel permitirem, faremos uma história de Natal. Os leitores desse blog serão devidamente informados.

10 de nov. de 2011

Viajando na literatura

Nessa semana de sol, viajei a uma cidade aprazível. Os abnegados que não tem preguiça de tirar a poeira dos dicionários sabem. "Aprazível" é uma qualidade digna de cidades turísticas. Desta feita, São Pedro merece o adjetivo.

São Pedro é uma cidadela próxima a Águas de São Pedro, próxima a Piracicaba. É água pra todo lado na região. Em Piracicaba, tem um rio. Águas é uma estância hidromineral. São Pedro tem o nome do santo invocado a cada vez que o calor anda de doer.

E foi num calor de doer que disse "São Pedro" ao motorista do ônibus. Uma hora depois, cheguei à cidade. Subi uma ladeira, cheguei à praça da Matriz, observei uma biblioteca novinha em folha, ainda por inaugurar. E entrei no Museu Gustavo Teixeira.

O patrono do Museu é considerado "filho e poeta maior" da cidade. O prédio do Museu tinha sido um colégio, também com o nome do escritor, morto em 1937.

A minha visita ao lugar também era pra conhecer um escritor: Nelson de Oliveira. Vindo de São Paulo, participa do projeto Viagem Literária, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

A Secretaria convida escritores a colocarem o pé na estrada, rumo a cidades do interior. Nelas, os autores dão oficinas para públicos de idades e experiências diversas.

Nelson é escritor de vasto currículo e militância ativa na área. Doutor em Letras pela USP, tem duas dezenas de livros publicados. As gerações 90 e 00 foram contempladas e valorizadas por coletâneas organizadas pelo autor.

Quando pus os pés no Museu, senti o rangido das tábuas de um prédio antigo, a tradição embaixo da sola do tênis. Na sala de palestras, avistei o primeiro colega de turma: um ex-escriturário de português escorreito. Sobrevivente de um tempo em que se usava, sem faces ruborizadas, a palavra "escorreito".

Logo chegariam os participantes da oficina: estudantes do ensino médio de cidades próximas a São Pedro, acompanhados dos professores das respectivas escolas.

Após a auto-apresentação, Nelson iniciou sua fala desmistificando a inspiração e a literatura em geral. E propôs exercícios de criação de textos a partir de estímulos: minicontos de Júlio Cortazar e um curta-metragem animado, onde um tigre abalava uma metrópole inteira com sua presença.

O exercício final era a observação de dois quadros do museu. A partir de um deles, um texto nasceria. Os textos poderiam ser em prosa ou em versos.

O que dá pra notar de imediato nesse tipo de atividade, agora que também faço isso junto a crianças, é a paralisia que acomete os participantes. Nelson observou o fato durante a oficina.

Jovens não recebem estímulos para a criação, tanto na escola quanto na vida cotidiana, direcionando todas as suas energias para o vestibular. A criação fica em segundo plano, talvez em último. Em muitos casos, adormecida para sempre.

Mesmo com os risos nervosos e temerosos da reação dos colegas em volta, Nelson fez com que os alunos lessem em voz alta as produções do momento, com direito a análise do estilo de cada um. Não que os adultos do lugar - eu e o colega parnasiano - não ficássemos com as pernas tremendo.

De minha parte, tive boas surpresas com a molecada. A turma pré-vestibulanda se mostrou articulada e imaginativa. Pena que não é possível reproduzir os textos aqui.

A tarde terminou com as inevitáveis despedidas. Os adultos da sala ganharam do "oficineiro" exemplares do livro "Muitas peles", de um tal Luis Bras. O autor da obra é colunista do jornal literário Rascunho, de Curitiba. E habitante cativo do imaginário de Nelson.

Pra vocês terem uma ideia, Luiz faz defesas bem-humoradas e consistentes da ficção científica, um gênero jamais lido e abordado por este palpiteiro que vos digita.

Nunca é tarde pra começar novas leituras e novas viagens. E vamos nós.

(Foto retirada do blog Lenda Urbana, de Nelson de Oliveira. Se houvesse o crédito do fotógrafo, eu colocaria aqui)

5 de nov. de 2011

Vovô viu a uva? Eu vi o Ivan da Viola

A velha frase "Agradecemos a preferência, volte sempre" pode ser aplicada a espetáculos de música. E a artistas gentis.

Na cidade da música, num fevereiro de três anos atrás, eu fazia a primeira digestão do dia. Ajeitado no sofá do lobby do principal hotel de Tatuí, ouvi um som suave de violão.

Tudo bem que este cidadão estava no município para acompanhar um festival de música. Mas ouvir algo tão celestial, ao alcance dos ouvidos e distante de um teatro, seria delírio em excesso para o horário. Ou efeito colateral do café da manhã.

Olhei para o lado. Avistei um cidadão sentado e curvado, procurando a melhor harmonia para uma canção. Mal sabia que ele é que harmonizava a minha manhã.

Puxei papo com o encurvado. Minha voz ainda não passara pelo adestramento de um curso técnico de locução, com DRT e tudo. Na ocasião, os sons emitidos por minha garganta caipira nada tinham de suaves. Ao contrário da fala do músico no sofá.

Trocamos gentilezas e mimos. Ele me deu um CD, eu dei a ele uma caricatura. Nos despedimos e fomos cuidar da vida. Cada um na sua.

No ano seguinte, em Piracicaba, fui ao campus da Esalq, reencontrar o músico que encontrei em Tatuí. Lá, ele ministrou uma espécie de aula-show de viola. A cada canção, percorria a história do instrumento e da canção rural brasileira.

Ao final da aula, um espetáculo de fato, me apresentei novamente. Para minha surpresa, ele se lembrou do meu nome e do encontro no hotel no ano anterior.

A atração à parte ficou por conta da filha do músico. Ao me olhar desenhando uma nova caricatura do pai, ela resolveu: "Quem vai te desenhar agora sou eu!" E ganhei uma caricatura dela.

O mais recente contato com o músico-professor foi mais perto de casa ainda: a seis quadras de distância. O músico que me premiou com tantas gentilezas fez uma apresentação no teatro do Sesi do bairro. Ele e seu trio.

A discrição do mineiro de Itajubá não ocultou a inquietação da sua arte. Não impediu a ousadia nos arranjos para músicas tradicionais como Tristeza do Jeca (de Angelino de Oliveira), Nascente (de Flávio Venturini e Murilo Antunes, gravada por Milton Nascimento) e até Eleanor Rigby (de Lennon & McCartney).

A tal discrição também não barrou a introdução de músicas próprias do artista, como a trilogia Ar, Água e Fogo. E Menino. E Mistério. Todas essas do recente CD, "Do Corpo à Raiz".

Como na aula da Esalq, o músico de formação acadêmica e coração improvisador dava os nomes das músicas e contava passagens da história da viola (mais antiga que o "irmão" violão).

Mesmo com a pompa e circunstância quase budista do anfitrião, não faltaram brincadeiras com os acompanhantes de palco: o baixista Gilberto de Syllos e a rabequista-violinista Paula Di Ferrão (chamada de "Paulinha da Viola" do grupo).

Lágrimas enxutas, função terminada, voltei para casa, revirar o cofrinho. A passos largos, entrei de novo no teatro, comprei o CD recente do músico e fui dar outro abraço nele.

O violeiro que sempre me atendeu muito bem atende pelo nome de Ivan Vilela. Seguirei à risca a frase-feita do comércio: voltarei sempre. A escutar seus CDs. E a me emocionar com seus shows, sô.

1 de nov. de 2011

O irmão do Ziraldo também é legal

Esqueci de falar. Mas nunca é tarde para certas notícias.

O Salão Internacional de Humor de Piracicaba homenageou Zélio Alves Pinto, um dos fundadores do evento nos anos 70, com uma mostra paralela exclusiva.

O irmão do Ziraldo completou 50 anos de carreira. É um artista gráfico de mão cheia, tanto quanto o irmão. Nos últimos anos, dedicou-se às artes plásticas com a mesma competência.

Além de cartuns selecionados de Zélio, a mostra trouxe 50 desenhistas convidados a homenagear o mestre, cada um com uma caricatura. A minha é essa aí ao lado.

Estar numa homenagem dessas, ao lado de caricaturistas e amigos como Spacca, Baptistão e Edu Grosso, foi uma das minhas alegrias de 2011. Que venham outras, dá tempo.

29 de out. de 2011

Mais um livro, mais crianças inventando um novo livro

Neste último sábado de outubro, fizemos mais uma Oficina de Livro Infantil com crianças, desta vez na Escola Waldorf Novalis, em Piracicaba.

Em novembro, lançaremos o livro-poster feito pelas crianças na Oficina, em dia de autógrafos. Na mesma data, uma mostra especial trará os desenhos produzidos por elas na atividade.

Após o lançamento do livro na escola, uma versão online da obra estará disponível aqui. Como fizemos com os livros de oficinas anteriores. E com o livro da Pipa Avoada.

26 de out. de 2011

Dez coisas que eu não gosto

Existem por aí umas brincadeiras de roda - ou melhor: de redes. Um ou outro tuiteiro ou blogueiro propõe, vez por outra, listas disso ou daquilo.

No caso deste que vos escreve, atendi a uma sugestão da Carla Ceres, que indicou dez amigos para fazer uma lista de dez coisas detestáveis. A lista incluiria fotos para ilustrar as dez antipatias do escrevinhador.

Por estar envolvido em outras tarefas envolventes do meu dia a dia, como a lavagem diária de louça em três turnos, acabei não escolhendo qualquer imagem pra ilustrar a tal lista. Resolvi escrever o que odeio juntando alguns comentários. Tipo extras de DVD, sabem?

1. Café requentado - Duro é lembrar de tomar um cafezinho às dez da manhã. Duro é tomar café engarrafado. A pedreira suprema e definitiva é não dar o braço a torcer. E esquentar o café que já está há séculos na garrafa.

2. Inverno - Calor faz a gente suar. O que me soa mal é o frio. Todas as blusas deste que vos digita estão com os braços enrugados. Porque me dá coceira vestir roupas compridas. Mas só acontece com blusas. Com jeans, não.      

3. Gente blasé - Em geral, essa gente não ri pra fora: ri pra dentro. Deixa escapar, quando quer fazer uma concessão aos pobres mortais ávidos por sua sapiência, um esboço de sorriso de canto de boca. Blasés sempre possuem uma ironia na ponta da língua, que costuma ser venenosa. Amo muitos exemplares dessa espécie encontrável em mostras de arte, baladas descoladas, cafés culturais. Porém, a convivência permanente com tais seres costuma ser letal.

4. Café expresso - Demorei pra gostar de capuccino, bebida típica dos blasés descritos no tópico anterior. Café expresso, sinto muito, não gosto até hoje. Ainda mais se vier acompanhado de uma cara de bunda no balcão, perguntando de modo ríspido e inquiridor: "O que você quer?"

5. Simpatia pré-fabricada - Típica de apresentadores de televisão, de publicitários, de colunistas sociais, gente que cruza contigo numa roda, te achando importante o suficiente para dela merecer um sorriso polido porcelanado. Frase típica do sorridente de plantão: "Obrigado pelo carinho!"

6. Colher de chá - Sabe a expressão "dar uma colher de chá"? Quem está com dó de você, por não ter conseguido fazer alguma coisa pra ele, te dá a colher de chá. Faz pra você. Atestado de incompetência, é isso aí. Mães que mimam os filhos tem estoques de colheres e de chás variados para as mais diversas ocasiões. Aplicável a homens, mulheres a demais animais domésticos de idades variadas.

7. Nervo exposto - Um dor inigualável, não recomendo. Vá ao dentista mais próximo.    

8. Mulher dissimulada - Adianta nada eu gostar ou deixar de. Elas existem, e pronto. E a gente, essa espécie homérica e sapiente, vive correndo atrás delas.      

9. Rúcula - Ridícula.

10. Chá de sumiço - Saída à francesa, dar no pé, bater em retirada. Não costumo fazer isso, o que só aumenta minhas possibilidades de desenvolver uma úlcera. É a vida, é a vida, que nem sempre é bonita, ao contrário dos versos do filho do Gonzagão.

25 de out. de 2011

Redes nada sociáveis

Redes sociais: divãs ao relento.

Caiu na rede, não é mais peixe. É seguidor.

Nas redes sociais, a carência é tal que muitos "seguidores" viram "perseguidores".

No tempo dos dinossauros, as pessoas liberavam geral botando o bloco na rua. Hoje, elas se soltam dando "blocks" dentro de casa mesmo.

Antes havia confessionário, divã. Hoje, há redes sociais.

Houve um tempo em que redes eram lugares para dormir. Hoje, redes sociais são, em muitos casos, papos pra boi dormir.

Para um amigo, se pergunta assim: "Posso contar com você?" Para os amigos de redes sociais, nem se pergunta nada. Vai contando e pronto.

Nas redes sociais, há quem conte minúcias de sua vidinha que não contaria nem ao pior inimigo. Mas acaba contando à sua rede de amigos.

Houve um tempo em que "rede social" era algo feito em tear, em que cabiam no máximo duas pessoas. E olhe lá.

Roda de amigos virou rede de amigos.

Redes sociais: divãs do desalento.

23 de out. de 2011

Pamonha no ar

Minha mostra de vinte anos de carreira (20 Anos de um Pamonha de Piracicaba) fez parte da programação oficial de mostras paralelas do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 2011. 

O Salão de Humor teve mais de 20 mostras paralelas, espalhadas em vários espaços de Piracicaba. Uma das paralelas, por sinal, ainda pode ser visitada na estação de metrô Trianon-Masp, em São Paulo.

A minha mostra esteve na Casa do Povoador, em Piracicaba. Mas pode continuar sendo visitada na internet. Coloquei no ar um catálogo virtual contendo as artes da exposição.

O catálogo também traz gentis depoimentos a meu respeito, dados pelos amigos artistas, jornalistas e escritores Spacca, Baptistão, Artur de Carvalho, Orlandeli, Paulo Ramos, Sidney Gusman, Laudo Ferreira e Carla Ceres.

O "algo mais" do catálogo-pamonha é a foto de Fabricio Eiras que correu as redes sociais dias após a abertura do Salão de Humor e da minha mostra.  A fotografia reuniu vinte colegas do traço de várias gerações.

Uma honra que a foto tenha sido clicada justamente na abertura da minha mostra. Honra tão expressiva quanto o privilégio da acolhida num dos maiores eventos de humor gráfico do planeta.

Meus eternos agradecimentos à Secretaria de Ação Cultural de Piracicaba, na pessoa da sua secretária Rosângela Camolese, e ao Centro Nacional de Humor Gráfico, na pessoa do seu diretor Edu Grosso.

Vejam o que um pamonha é capaz de fazer. Divirtam-se com o catálogo!

20 de out. de 2011

A Pipa Avoada no ar!

Nosso novo livro infantil A Pipa Avoada, lançado em tarde de autógrafos no Dia da Criança, no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, está disponível para leitura online.

No link do livro, você pode folhear e ler a obra como um livro normal, mas na tela do seu computador. Com som de páginas virando e tudo.

As ilustrações ao lado reproduzem o design do Calaméo, site que hospeda o arquivo d'A Pipa Avoada.

Tanto A Pipa como outros livros, feitos em parceria com crianças nas nossas Oficinas de Livro Infantil, podem ser lidas na hora que você quiser, na barra direita deste site ("Infantis Online).

O "algo mais" dessa edição virtual é a gentil apresentação da escritora Carla Ceres, frequentadora assídua deste espaço e colunista dos sites Diário do Engenho e Digestivo Cultural.

Divirta-se! Nunca é tarde pra levantar voo. A vantagem é que nossa imaginação não atrasa os horários de decolagem. E não precisa de check-in.

19 de out. de 2011

Horário de Verão

Balanço do primeiro dia com Horário de Verão: balançou o relógio biológico de todo mundo.

Primeiro dia com Horário de Verão: teve de tudo. Menos sol.

Durante a vigência do Horário de Verão, "o país" há de economizar. Mas "o povo" há de ter paciência de sobra.

Horário de Verão é prova de fogo para o brasileiro. Quem ficar de fogo no churrasco de domingo, terá uma hora a menos para curtir ressaca.

Tanta gente adoraria que Horário de Verão fosse a hora de ir para a praia.

Durante o Horário de Verão, o que vai ter de casal acertando os ponteiros.

Reflexões a respeito da passagem do tempo devem ficar para depois do Horário de Verão.

Horário de Verão não é a praia do brasileiro.

Depois do Horário de Verão, dias melhores verão.

18 de out. de 2011

Ao vivo: nunca só, sempre bem-acompanhado

Nossa temporada de caricaturas ao vivo no Salão Internacional de Humor de Piracicaba chegou ao fim, junto com o evento em 2011, no último domingo.

Pelo terceiro ano consecutivo, estivemos nos finais de semana no Engenho Central, no espaço da mostra principal do Salão, desenhando o público nas capas do Jornal Caricaras, o jornal que é a sua cara.

Nas poucas vezes em que não estivemos no Salão nos finais de semana, empunhamos nossas canetas e nossa prancheta em outros lugares.

No último sábado, 15 de outubro, divertirmos os funcionários da 3M do Brasil.

A empresa reuniu colaboradores de várias unidades (São José do Rio Preto e Ribeirão Preto) em Sumaré para uma megaconfraternização, promovida pelo Santander. A chuva quilométrica não afogou os ânimos do pessoal festeiro.

As fotos dessa postagem mostram alguns felizes caricaturados em Sumaré e Piracicaba. 

As aventuras aqui relatadas já viraram saudade. E registro, é claro. E risadas: nossas e do respeitável público.

17 de out. de 2011

Presente de Noel

Ainda não é Natal. E nem o Noel é o Papai. Esse Noel é o Rosa, um compositor da música brasileira cujo centenário foi comemorado em 2010.

O sambista precursor do Brasil ganhou uma homenagem do Instituto Memória Musical Brasileira e da Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro.

No último dia 13, o Espaço Cultural Leila Diniz, em Niterói, abrigou o lançamento do livro e mostra Noel é 100.

Quarenta caricaturas do compositor foram selecionadas num concurso. Duas delas são de desenhistas de Piracicaba: Lucas Leibholz, premiado no Salão Internacional de Humor, e este que vos digita.

Por coincidência, nossos trabalhos estão expostos lado a lado, como você pode ver na minha foto junto à caricatura. A página dupla com a minha participação no livro, de capa dura e edição primorosa, está embaixo da foto.

Estive em Niterói na noite de lançamento do livro e da mostra. Conheci ao vivo vários colegas de traço, sendo ciceroneado pelo cartunista e agitador cultural Zé Roberto Graúna. Outros colegas me receberam com papos e sorrisos: Marco Souza, Glen Batoca e Renan Cristian.

A mostra Noel é 100 fica aberta até o dia 3 de novembro. Detalhes aqui.

15 de out. de 2011

Enquanto seu Lobo não vem

(Tira da série "Variações desvairadas". Publicada no Jornal de Piracicaba em 9.11.2000. Nesse tempo eu tinha opiniões definitivas a respeito de tudo. Hoje, já é diferente. Pra começar, há um pouco de respeito)


O texto abaixo é do tempo em que eu escrevia ficção baseada em manias reais. Lembrei dele ao visitar meu amigo Arnaldo Nogueira Jr., mentor do Projeto Releituras, no Rio de Janeiro. O final da nossa conversa foi justamente sobre Edu Lobo, um gosto em comum. Na volta a Piracicaba, lembrei de outra coisa: tinha escrito a fábula desafinada justamente em homenagem ao Arnaldão.


Era uma fabulosa tarde domingueira. O rapaz saiu de casa, respirou, olhou-se no seu espelho interno só para verificar como continuava sendo o máximo, pegou o carro e foi-se.

Na fabulosa e formosa tarde domingada, o negócio era beber. O rapaz, porém, não queria saber disso. Seu negócio era arrumar um disco de vinil do Edu Lobo, ídolo de seu pai, cujo coração dava mostras de fraqueza, causada por fraquezas várias anteriores. O velho não queria partir de coração partido, queria ouvir o disco que não ouvia há anos. Por não mais tê-lo em mãos, pediu ao filho que o procurasse. E lá se foi o filho a Sampa, terra em que se plantando tudo dá, buscar num sebo o tal disco para o pai semi-moribundo.

O filho do pai desconfiava que o pai resistiria por um tempo finito, com ou sem Edu Lobo. Mas demonstrava certa frieza de sentimentos, pois confiava que encontraria o raio do LP no mesmo dia.

A fabulosa tarde domingueira deu os sinais de que decepcionaria as esperanças do moleque no carro. Veio uma tempestade no meio do caminho. Nuvens pretas dominaram o céu, outrora azul-anil nas entranhas do Brasil-zil. Difícil conduzir o carro numa rodovia molhada, repleta de outros veículos, escura tal qual o sono de um pesadelo.

Centenas de quilômetros e pedágios depois, nada de mais grave ocorreu na viagem. Três horas de viagem, o rapaz chegou a um longínquo sebo de vinis em São Paulo. Era fim de expediente, o dono da loja resmungou em ter que atender a um retardatário, por fim deixou-o procurar o que desejava. Uma fortuna, o Edu Lobo. O filho do lobomaníaco pagou. E voou para casa.

O pai aguardava o rebento no leito de morte, fraco mas animado ao constatar que o filho cumprira seu desejo.

Os olhos do velho brilhavam como nunca. E, num gesto surpreendente, catou o disco do Lobo, rasgou a capa, sacou do vinil e o quebrou em dezenas de pedacinhos. Ao filho, perplexo com a cena, o quase-morto sentenciou:

— Essa é minha lição e meu legado, carregue-o para toda a vida, meu filho. Eu adorava a música desse cara, mas vejo que isso não me serve em nada numa hora destas. Jamais se apegue em excesso às coisas desta vida!

Feito o discurso, o pai do rapaz fechou os olhos e embarcou num sono sem fim. O rapaz propriamente dito não sabia se ficava triste com o passamento do velho ou se se contorcia de raiva com o gesto derradeiro do distinto progenitor...

13 de out. de 2011

"Noel é 100", um livro nota 10

Depois da alegria do lançamento do livro infantil A Pipa Avoada, meu e da Maria Luziano, no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, eis que chega outro lançamento.

Hoje, em Niterói, no Rio de Janeiro, será lançado, às sete da noite, o livro "Noel é 100". Trata-se de uma obra com 40 caricaturistas selecionados para homenagear o centenário do compositor Noel Rosa.

Dois desenhistas de Piracicaba estão no livro: Lucas Leibholz e eu.

Mais detalhes, é só clicar no convite.

12 de out. de 2011

No Dia da Criança, a Pipa Avoada levanta voo...

... e aterrisa no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, às 3 da tarde, neste dia 12 de outubro.

O livro-poster terá distribuição gratuita e limitada, no Armazém 14 do Parque Engenho Central, em Piracicaba.

Eu e a Maria Luziano, os autores da obra, estaremos à disposição do público, autografando os exemplares.

Quem não puder estar com a gente, levando seu exemplar d'A Pipa Avoada, poderá acessar a edição virtual aqui no blog. Em breve, muto breve.

Também pretendemos fazer lançamentos do livro-poster em escolas e instituições que desenvolvam trabalhos junto a crianças. Interessados, entrem em contato via e-mail.

Para saber mais sobre o livro e os autores, leia aqui.

Para ler os livros anteriores, feitos com crianças em oficinas de arte, clique aqui, aqui, aqui e aqui.

11 de out. de 2011

José Vasconcelos, um pioneiro do humor

Entrevista e perfil do humorista José Vasconcelos, realizados por este que vos digita para o jornal de humor Rio, que eu editava em 2004. Uma homenagem ao precursor do stand up no Brasil.


O Zé saiu de trás da cortina, só deixando o rosto de fora. Daria uma ótima foto, se houvesse uma câmera ali. Minutos depois, ele chega e me fala:

- Desculpe não estar dando a atenção que você merece.

Uma gentileza sem par. No teatro, assistindo ao show, tentava entender o porquê de certo público não dar a atenção merecida a Zé Vasconcelos. Naquela noite, umas cem pessoas, em sua maioria com certa idade - a terceira - prestigiaram o espetáculo daquele senhor. E, olha, ele tem histórias pra contar.

Depois de ultrapassar a inevitável barreira de produtores e assessores do artista, encontro Zé Vasconcelos no palco do Teatro Municipal Dr. Losso Netto, em Piracicaba, interior de São Paulo. Interior que ele adotou, "para ter sossego", após o fracasso de um empreendimento grandioso, a Vasconcelândia.

Nesse tempo de parques aquáticos e temáticos, seria até fácil colocar em pé um projeto como esse. Em fins dos anos 60, porém, faltaram os apoios necessários para concretizar o sonho. "Eu acreditei demais nas pessoas", diz Vasconcelos.

"Levei o projeto à Embratur, pedi apoio ao ministro Andreazza, que não veio. Me associei a um investidor alemão, que disse: 'Sem estrada, sem negócio!' Para dar certo, uma estrada teria que ligar a Via Dutra à Fernão Dias. Falei também com o governador de São Paulo, que não liberou a estrada".

O show continuou, é claro. Vasconcelos continuou fazendo espetáculos de humor e gravando discos.

No cinema, Zé apareceu em breves e marcantes participações. Em 1947, imitou Ary Barroso em Este mundo é um pandeiro, estrelado por Oscarito. Como astro principal, participou de Os homens traem... e as mulheres subtraem, em 1970. Segundo uma reportagem da revista O Cruzeiro, à época, "o filme é calcado nas principais figuras que José Vasconcelos criou e assim o artista se convenceu a filmar".

O filme Onde anda você, de Sérgio Rezende, lançado em 2004, também traz o comediante em seu elenco.

Já que é pouco comum alguém decidir-se um humorista, pergunto a Zé de onde saíram as primeiras graças. Ele diz que as fez no colégio, imitando artistas e locutores, muitos deles conhecidos do público nas ondas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, há décadas.

Ary Barroso, um dos primeiros multimídias de sua época, atuando como locutor de futebol, animador de auditório e que compôs canções como Aquarela do Brasil, foi um deles. Outros ídolos eram Luiz Jatobá, Oduvaldo Cozzi e César de Alencar - este, uma das inspirações de Silvio Santos.

"Aliás, num concurso de locutores da Rádio Guanabara, ganhei o primeiro lugar, disputando com o Silvio e o Chico Anysio". Isso nos anos dourados do rádio, que tinha tanta força, naqueles anos 40 e 50, quanto a televisão tem hoje.

Em seguida, Zé estreou no teatro. Fez vários espetáculos de humor musical, um gênero "que não existe mais". Rádio, sinônimo de diversão, Professor de música, Ópera A Minuta... O espetáculo-solo, porém, foi o seu pulo do gato. Danny Kaye, comediante norte-americano, era, para Zé, a inspiração maior.

Eu sou o espetáculo marcou a estréia de Vasconcelos como o primeiro one-man show brasileiro, um sujeito de inúmeros talentos: canto, dança, representação e humor afiado, na ponta da língua e dos cascos.

A Tupi, primeira emissora de TV do país, inaugurada em 1950, acolheu o humorista, no primeiro programa do gênero na telinha, A toca do Zé. E estrelou superproduções televisivas, já nos anos 60, como Foguete ao sonho. "Nesse programa, usávamos seis estúdios e uma orquestra!", diz ele. Também fez O mundo alegre de José Vasconcelos, programa de música e entrevistas.

Os discos, tirados ora de seus espetáculos país afora, ora com gravações exclusivas, se sucederam a partir dos anos 60. Vários deles via Odeon, atual EMI: Eu sou o espetáculo, O espetáculo continua, As sete vidas do Doutor Mania, Não há cupido que aguente, e, pela RCA, atual Sony, Ria com José Vasconcelos.

A veia musical do veterano artista é outro de deus múltiplos talentos. No espetáculo atual, Vasconcelos toca a Rapsódia Nordestina ao piano, homenagem a seus pais, que o trouxeram de Rio Branco, no estado do Acre, ao Rio de Janeiro, onde tudo começou para ele.

Com Garoto - violonista morto aos 40 e tantos anos, resgatado por Chico Buarque e Vinicius de Moraes com Gente humilde, melodia do violonista letrada pelos dois compositores em 1970 - o humorista compôs Sorriu pra mim (gravada por João Gilberto) e São Paulo quatrocentão, que ganhou concurso promovido pela Prefeitura de São Paulo, na década de 50.

Antes que chegue a "hora mágica" de Zé Vasconcelos (hora do espetáculo, lógico), pergunto sobre a atual fase do humor na televisão brasileira, no cinema, no mundo. "O fim do vaudeville acabou com o humor. Desapareceram os redatores".

Ele se mostra decepcionado com o uso do sexo no humor dos programas mais populares. A gente fica tão habituado com essa exibição da baixaria que parece acreditar que sem isso, não há humor. Zé Vasconcelos, em seu espetáculo, consegue atuar sem que haja piada alguma com material apelativo - no sentido exposto acima. E a graça sai.

O show atual de Zé termina com uma referência ao seu trabalho com a terceira idade, por meio de palestras destinadas a esse público muito especial. A continuação da vida sem os filhos, que casam e mudam, o estímulo à convivência familar depois dessas mudanças inevitáveis, são alguns dos assuntos abordados por ele com os idosos.

Vasconcelos é um humorista que atravessa gerações, um humanista que anima os corações.

E fecha o pano. Até a próxima risada.

10 de out. de 2011

Homens que são uma graça

Mulher se amarra em homem engraçado. Mas quando a mulher fica com a cara amarrada, homem acha uma desgraça.

Mulher estima homem engraçado. A não ser que ele faça graça para outra mulher.

Mulher venera homem engraçado. Se tiver a cara do Gianecchinni, então...

Mulher curte homem engraçado. Não gosta de homem desgraçado, nem esgarçado, muito menos esganiçado.

Mulher admira homem engraçado. Mas não fica procurando namorado no circo, em pleno picadeiro.

Mulheres gostam de homens engraçados. Porque são tragicômicas.

Mulher adora homem engraçado. Mas vá em qualquer roda feminina: elas só ficam rindo dos homens.

Mulher ama homem engraçado. Depois que ele a conquista pelo humor, ela trata de proclamar um "relacionamento sério".

Mulher aprecia homem engraçado. Mas ai do homem se ele rir da mulher.

Mulher preza homem engraçado. A não ser que tenha a cara do Costinha.

9 de out. de 2011

O peso de alguns quadrinhos sob medida

Tudo bem. Você deve gostar das "tirinhas" que saem nos jornais, revistas e internet.

Deve apreciar autores como Angeli, Laerte e Fernando Gonsales. Pode ser fanático por Mauricio de Sousa, que começou a Turma da Mônica ainda nas páginas de jornais.

Se for da Geração Internet, provavelmente acompanha o trabalho de Arnaldo Branco, Allan Sieber, André Dahmer e Orlandeli. Autores diferentes, épocas diferentes, veículos diferentes e cabeças diferentes.

Só que existe um outro tipo de história em quadrinhos. Geralmente desprezada pelos próprios autores do gênero, porque "não dá liberdade" para o autor. É a história em quadrinhos feita para empresas, com abordagem didática.

Ainda bem que sempre há as exceções que confirmam a regra. Uma tira de quadrinhos com o tal perfil "didático", mas criativa, é Pesado e Medido. O autor dos personagens é Pedro Luiz Montini, meteorologista que organizou a assessoria de divulgação e publicações do Ipem-SP, o Instituto de Pesos e Medidas paulista.

Montini e o Ipem publicaram um livro de tiras com os personagens citados. E conseguiram espaço no Salão Internacional de Humor de Piracicaba para expor o trabalho. A mostra de Montini está no Parque Engenho Central, no mesmo espaço da mostra principal do evento.

Quem for ao Salão, poderá conhecer as tiras expostas em dimensões maiores. E levar para casa um exemplar do livro do Ipem.

A primeira característica marcante de Pesado e Medido é o estilo de Montini. Ele aboliu tudo o que poderia poluir o visual da tira. Adotou as silhuetas, o contraste preto e branco, as formas geométricas, para expressar as situações e as gags.

O que poderia soar repetitivo ficou atraente. Afinal, tiras limitam-se à movimentação de pessoas falantes num espaço reduzido. Nada mais apropriado que reduzir ao essencial os recursos narrativos e visuais.

A tira de humor não é um quadro da Mona Lisa. E nem por isso deixa de ter o seu valor.

Outro acerto de Montini foi a opção pela piada solta, sem compromisso didático. Embora aborde temas relativos aos objetivos e serviços do Ipem, o autor preferiu explorar as disparidades da dupla, reprodutora da dinâmica das duplas cômicas do cinema e televisão.

Estão, e estiveram aí, Martin & Lewis, Abbott & Costello, Didi & Dedé, O Gordo & o Magro, Leandro Hassum & Marcius Melhem para não nos deixar mentir. Pesado é o cidadão rotundo da dupla. Medido é o cidadão desprovido de quilos extras.

Cada página do "Ipem-SP em Tiras" traz uma piada visual da dupla. E o que pode haver de explicação necessária para informar o leitor sobre a instituição está numa legenda abaixo dos quadrinhos, e não em discursos quilométricos saídos das bocas dos personagens.

O recurdo do didatismo disfarçado de encantamento pode enfraquecer a ação narrativa e afastar o leitor da história. Está aí também o mestre Monteiro Lobato para não nos deixar mentir. Quando usou o recurso do "instrui-diverte" nas aventuras do Sítio do Picapau Amarelo, não se deu bem.

Pedro Luis Montini, o autor das tiras mais divertidas e originais nas quais pus os olhos nos últimos meses, merece uma projeção maior, para além das fronteiras do Instituto de Pesos e Medidas. No site do Instituto, é possível baixar a versão virtual do livro.

Nem só de Angelis e Mauricios vive o leitor de quadrinhos. Desculpa aí.