29 de abr. de 2009

O Lobato da minha geração

João Carlos Marinho é o escritor de O Gênio do Crime, livro que me despertou para o humor.

Muita gente leu a obra quando criança, como eu. Num tempo de inexistência do modo politicamente correto de ser, o livro tinha crianças agindo e pensando com a própria cabeça, para desvendar a identidade de um falsificador de figurinhas de futebol.

O ritmo alucinante das frases, a construção das piadas, a cooperação entre adultos e crianças para se resolver problemas, tudo isso marcou a minha personalidade para sempre.

Anos depois, em 1999, procurei João Carlos Marinho para um papo em São Paulo. Para minha felicidade, constatei que o homem de olhos azuis à minha frente era o espelho de seus livros: brincalhão, cultíssimo, fanático por futebol.

Voltei outras vezes ao seu convívio. Um de seus últimos gestos com este cartunista foi o envio do arquivo em Word do seu livro Assassinato na literatura infantil, meses antes de ir às livrarias. Também fez o prefácio para um livro criado por uma molecada, em oficina coordenada por mim.

Neste ano, o livro O Gênio do Crime faz quarenta anos. Como da primeira vez em que conversamos, puxo uma salva de palmas ao escritor que alegrou meus dias de moleque.

26 de abr. de 2009

Nomes aos bois, apelidos aos bezerros

Outro dia me queixei dos meus interlocutores telefônicos. Esse pessoal não me ouve direito e repete variantes do meu nome de batismo. Não xingamentos, mas corruptelas. Se bem que dizer "corruptelas" já parece um xingamento. Mas não é disso que quero falar.

Nos dias atuais, me dou ao direito de reclamar em voz alta. Resmungar, jamais. Se há algo que aprendi nesta vida malvada, é que o simples ato de se queixar não garante direitos ao reclamante. O ato exige ouvidos atentos a tal proeza. Se reclamada em altos brados, melhor ainda. O respeitável público pode até reclamar do volume do reclamão, mas jamais o ignorará.

Uma volta no tempo reforçou essa convicção. Dos sete aos vinte e cinco anos, fui um cidadão tímido de doer. Descontado o fato de que eu preenchia o tempo disponível preenchendo cadernos escolares, ora com lições de casa ora com gibis de próprio punho, não me dava ao luxo de abrir a boca para dizer gato, quanto mais para chamar um.

Essa timidez me protegia do mundo, mas o mundo não queria saber de me proteger. Na escola, eu era chamado de todos os nomes possíveis. E dá-lhe apelidos, os mais criativamente perversos. Bem mais criativos que meus próprios gibis, desenhados com esferográfica preta.

Passados vários anos, eu ia ao curso de Radialismo, especialização em locução, vejam vocês o progresso do tímido aqui. Duas colegas de sala me davam carona, e uma delas se referiu a um tal Bullyng. Perguntei o que era. Ela me respondeu descrevendo a prática do parágrafo acima. Já perdoei os algozes involuntários da minha infância, mas ignorava o estrago que o Bullyng causa em outras crianças.

Essa história de dar nome aos bois sem consultá-los marca mesmo. E a marca pode ser eterna, feito um nome na certidão de nascimento.

Eu na Monet

Todo mês a revista Monet (ed. Globo) convida um cartunista diferente a criar um final alternativo para um filme conhecido. Na edição de maio, fui o escolhido para a tarefa.

A Monet chega às bancas nesta semana.

22 de abr. de 2009

Qual é a sua graça?

Elegante esse modo de se dirigir a alguém. Perguntar qual é a graça dele. Um modo cheio de modos. Se bem que os mais novos, que se cumprimentam com sequencias de socos e códigos indecifráveis, trocados de tempos em tempos, podem achar que estão sendo zuados (com "u" mesmo). E podem rebater na lata: "Graça, mermão? Tá pensando que eu sou palhaço?"

Quanto à minha graça, ela tem acento na primeira letra. Desde que tirei minha carteira de identidade, entretanto, não há um documento meu com o dito cujo. Independente de reformas ortográficas presentes e futuras, fui registrado com o tal apêndice torto na primeira letra do meu nome. Quero ele até o fim, o meu fim. Por ora, ainda não há assento possível ao meu acento.

Pior que tudo isso, e sempre tem coisa pior, é a turma analfabeta que insiste em me nomear errado. Principalmente ao telefone, quando me identifico, e meu interlocutor repete errado.

Para todos os efeitos, meus codinomes involuntários ficaram sendo, entre inúmeras variações desvairadas, Eurico, Edson, Égon. É a tal preguiça que assola o país. Preguiça de pensar, de ouvir, de falar, de existir. Principalmente, preguiça de acentuar nomes alheios. Para esses surdos de pai e mãe, já tenho um nome na ponta da língua. Um nome nada bonito, por sinal.

20 de abr. de 2009

Um jornal que é a sua cara


Faço um jornal de humor chamado Caricaras. Sai de seis em seis meses, desde o final de 2007. Desenho e escrevo o jornal inteirinho.

Na capa de cada exemplar do jornal, há um espaço vazio, quase a capa toda. Nela, desenho a caricatura da pessoa que recebe o exemplar. Assim, nenhuma capa é igual à outra.

A quarta edição do Caricaras terá lançamentos a partir de maio, em várias cidades. Nas ocasiões, estarei pessoalmente desenhando as capas para o público.

Mais sobre a trajetória do jornal aqui.

(Foto com o jornalista José Trajano, da ESPN, e sua cara na capa do Caricaras, em 2008)

19 de abr. de 2009

Eu no Bis - 2

Pra quem não viu a animação do João Gilberto, ela está no blog-portal Bis, aqui.

O velhinho merece. Ser sacaneado inclusive.

18 de abr. de 2009

Brincando de DJ

Fui convidado pelo Dafne Sampaio, do site Gafieiras, a escolher e comentar minhas cinco músicas favoritas da semana para a coluna CincopraUma.

Para alívio dos leitores deste blog, a Banda Calypso não entrou no meu Top Five. Mera distração.

Leia a coluna do Gafieiras aqui.

15 de abr. de 2009

Eu na MAD - 4

A revista MAD segue firme e forte nas bancas, pela editora Panini.

A capa da edição 13 anuncia uma sátira à recente Reforma Ortográfica, com direito a professor Pasquale e tudo.

Nesta edição, criei uma série de cartuns sobre objetos inanimados que se mostram bem mais animados que de costume...

A revista MAD 13 está nas bancas, por seis e noventa.

Ai que medo

Eu tenho medo de montanha-russa.

Deixei de ir a parques de diversão por causa disso. Como bom capricorniano, gosto de ter os pés bem firmes no chão. Não no chão do carrinho da montanha-russa. O chão da Terra está em movimento permanente, mas faz a gentileza de não me alarmar sobre o fato de estar em movimento.

Tenho medo de atravessar a rua.

Já deixei de andar de mãos dadas com papai e mamãe há tempos. O problema é que os pais da gente envelhecem, as ruas levam camadas insatisfatórias de remendos de piche a todo instante, e a gente tem que se acostumar a andar de mãos dadas com nosso anjo da guarda. Eu até acredito em anjo da guarda. Difícil é acreditar que os carros, caminhões e demais veículos de transporte respeitarão os sinais de trânsito.

Tenho medo de ser assaltado.

Já fui assaltado. Eu voltava de um banco onde acabara de fazer um depósito. Cercado por uma dupla de caras fechadas numa rua vazia, entreguei uns trocados a eles e me mandei cinquenta quarteirões adiante. Já fui dezenas de vezes a São Paulo e percorri ruas inóspitas do Rio de Janeiro ano passado. E fui assaltado logo na rua da minha casa...

Eu tenho medo e tenho medos, como todo mundo. Mas meio mundo é que tem o maior dos medos: o de admitir que tem medo.

9 de abr. de 2009

Paulista opina sobre nova lei do Serra



PS.: No dia seguinte a esta postagem, vi outra charge com a frase acima, mas quem a dizia era um cigarro. Quem "levou fumo" agora fui eu, o chargista de ocasião.

Desenhos para crianças

Abaixo, ilustrações infantis recentes para o Jornal de Piracicaba. Clique nelas para aumentá-las.

8 de abr. de 2009

Lixo colorido

Todos os dias, ao acordar, vou à garagem de casa cumprir um ritual. Abro a porta e cato, um a um, as dezenas de folhetos de propaganda.

Tem de tudo. Propaganda de loja de material de construção. Ofertas de supermercados, alguns nem tão super assim. A última edição do jornal do bairro, que eu sempre torço para que seja de fato a última, pois o jornal é literalmente um lixo.

A estes itens, juntou-se um novo jornal evangélico em formato tablóide. Porque já havia os folhetos deslumbrantemente coloridos das Testemunhas de Jeová. Estes não sujam minhas mãos, ao contrário do jornal evangélico. Estou falando da sujeira da tinta de impressão.

Alguns supermercados insistem em abarrotar diariamente minha caixa de correio, as dobras do meu portão e todo lugar onde possam enfiar um papelzinho dobrado com as ofertas da semana. Os mesmos supermercados que estão deixando de fornecer sacolas de plástico aos clientes, por serem anti-ecológicas.

Nos dias em que meu humor melhora, tenho um desejo imenso de virar criança e fazer aviãozinho dos tais folhetos. Mas não daria certo. Os aviões de papel pousariam no vizinho. E ele é quem perderia o humor com a molecagem.

Estamos em plena Semana Santa. Vou me resignar e continuar catando pacientemente a papelada. Ou eu faço um papelão, jogando tudo na cara dos entregadores? Deus tá vendo.

4 de abr. de 2009

Eu ouvi um CD da Banda Calypso

Depois de ler o título deste post, muita gente vai abandonar este blog. Quem ficar, senta que lá vem história. A história da Banda Calypso.

Liderada pelo guitarrista Chimbinha e a vocalista Joelma, a banda se fez sem apoio de gravadoras, televisões e apresentadores paquidérmicos.

Em depoimento à revista Trip, Chimbinha conta como o sucesso veio, ainda nos anos 90. Sem grana para que as rádios tocassem suas músicas, o músico se utilizou de um expediente curioso. Em Belém do Pará, divulgou o primeiro CD da Calypso nas "rádios de poste", alto-falantes que tocavam o material.

Com o sucesso nessa mídia tão peculiar, as rádios "normais" começaram a tocar a banda. E 50 mil CDs tiveram distribuição gratuita em todos os espaços em que Joelma e Chimbinha faziam shows.

Milhões de CDs vendidos depois, o resto da história vocês sabem. Ou fingem que não.

Meu contato inicial com a banda se deu em gôndolas das Lojas Americanas, repletas de discos dos Calypso. E através de comentários familiares sobre a voz aguda e os "quilinhos a mais" de Joelma. Ignorando tais mimos à vocalista, escolhi o Acústico, de 2008, para uma audição.

As músicas da banda, ao contrário do que poderia supor este ouvinte de bossa nova e MPB, não funcionaram como castigo ou tortura psicológica. Joelma é a versão feminina de Zezé di Camargo. Cantor que também não me soa inaudível. Se fosse, isso só denunciaria minha surdez crônica.

"Doce mel", a segunda faixa do Acústico Calypso, passa perfeitamente numa prova dos nove pop. É melhor que muita bagaceira de bandas pop-rock dos anos 80. "Fórmula mágica" é outro exemplo. "Máquina do Tempo" também. Títulos atraentes, sons pop pra valer.

As canções são todas parecidas umas com as outras. Podem exalar um romantismo barato. E daí? A miscelânea chamada música pop é um repeteco permanente, mais ainda a partir do rock and roll. Tem muita música maravilhosamente elaborada por aí, mas que é um porre de ouvir. E certos deuses da MPB vivem de encher o saco dos mesmos ouvintes que os elevam ao Olimpo, adivinhem com quê? Com romantismo barato. Em MPB, no entanto, romantismo é qualidade. Na Banda Calypso, é defeito.

Joelma e Chimbinha são gênios da canção pop atual. Com o seu cancioneiro popular, varrem para debaixo do tapete parte da classe média metida a besta do século 21. Ou quase toda ela.

2 de abr. de 2009

Eu no Bis

O novo blog-portal Bis está no ar, dentro do site da MTV. É aberto à participação dos internautas.

André Forastieri, que comanda a empreitada com Bel Marcondes, explica melhor o lance aqui.

Na estréia do Bis, um desenho meu foi selecionado para o site.

Clique no quadrado para ir a ele. Cada um no seu quadrado...