23 de set. de 2009

Timóteo, o tonitruante

Ouvi hoje um CD 2 em 1 de Agnaldo Timóteo, adquirido há alguns dias.

Como muita gente de minha geração, conheci Agnaldo Timóteo em programas de auditório na TV.

Lembro dele menos como cantor e mais como polemista, dono de uma lábia que lhe valeu vários mandatos como deputado.

Entusiasta de Paulo Maluf, o cantor de Meu grito amarga certo ostracismo como vereador em São Paulo.

Longe dos tempos de vacas gordas da época do LP, o cantor já foi preso por vender seus CDs em praça pública. Nesse episódio, por não aceitar a prisão, transformou o lugar em praça de guerra.

Dois LPs de épocas distintas estão reunidos no CD comprado por mim. Quatorze anos separam um disco de outro. Obrigado querida é de 1967, Sonhar contigo é de 1981.

Para os ouvidos de hoje, acostumados a cantores "naturais", o estilo tonitruante de Agnaldo Timóteo pode soar tão ridículo quanto o adjetivo "tonitruante".

Mas esse é o estilo de uma dinastia de intérpretes masculinos, interrompida pelos cantautores tipo Chico Buarque. E, se é para escolher entre Marcelo Camelo e Agnaldo Timóteo, prefiro soltar meus foguetes para este último. Sinto muito, emos e emas de plantão.

O primeiro vinil do CD 2 em 1 traz o repertório da época em que o intérprete estava por cima da carne seca, com direito a uma música exclusiva de Roberto Carlos, a célebre Meu grito.

Outras canções do disco, quase todas, traziam o derramamento e a dicção típicas da tal escola masculina de canto melodramático-suburbano brasileiro. Vicente Celestino e Francisco Alves assinariam embaixo.

Os arranjadores Edmundo Peruzzi e Nelsinho também captam esse derramamento e mandam bala nos arranjos orquestrais pra boi acordar.

Versões de sucessos franceses e italianos dominam o vinil. Elas nasciam graças aos hoje anônimos versionistas de plantão das gravadoras sessentistas, como Nazareno de Brito, que eu vi na ficha técnica de vários discos de Moacyr Franco.

Nazareno comparece no disco Obrigado querida com a versão da faixa-título, originalmente denominada Merci Cherie.

No vinil seguinte, aparece o Agnaldo Timóteo que eu conheci, o dos anos 80. Sonhar contigo, composição do meloso Adilson Ramos, dá título à obra.

Aqui, as versões desapareceram, e algumas músicas carregam um tom mais sertanejo. Timóteo até regrava Estrada da vida, clássico de Milionário e José Rico.

Eu gosto mais da Estrada original, mas o caratinguense faz bonito na regravação. Bonito ao jeitão dele. De uma beleza exótica, digamos assim.

No vinil, os conhecidos compositores populares Luiz Vieira, Eduardo Lages e Carlos Colla se juntam aos desconhecidos compositores populares Wagner Montanheiro, Tand, Márcio Santos, além de um certo Agnaldo Timóteo...

Uma faixa que me surpreendeu foi Fantasia de Minas Gerais. A música começa com a clássica pergunta "Você já foi à Bahia?", mas inverte a expectativa e convida o ouvinte a visitar e exaltar as belezas do estado-natal do cantor... Uma ótima sacada, ou sacanagem, se preferirem.

Aliás, sacanagem é não escutar Agnaldo Timóteo. Se a música popular eventualmente pode nos emburrecer, não é o preconceito que nos tornará mais inteligentes.

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